Em 1976 foi criado na então recém-nascida Universidade Eduardo Mondlane (sucedendo à Universidade de Lourenço Marques) - sob direcção do falecido reitor Fernando Ganhão -, o Centro de Técnica Básicas para o Aproveitamento dos Recursos Naturais (TBARN). Era António Quadros quem dirigia esse centro, o pintor, o poeta, o homem do cachimbo e boina guevariana, o cantor também, criador de abelhas em sua casa, professor de muitos (entre os quais eu) juntamente com a sua assistente e cantora Amélia Muge. Do meu colega e escritor João Paulo Borges Coelho - um dos colaboradores de Quadros, juntamente com o falecido José Negrão - retirei uma pequenina parte de uma bela intervenção que fez em 2007 em memória de Ruth First, em seminário organizado pelo Centro de Estudos Africanos: "Dirigidos intelectual e administrativamente pelo pintor e escritor António Quadros, líamos René Dumont e Leroi-Gourham, ao mesmo tempo que estudávamos formas de conservar os cereais, de construir bem e barato com materiais disponíveis, de utilizar a tracção animal, de aproveitar a força da água em pequenas represas e carneiros hidráulicos, enfim, de projectar de forma talvez um pouco ingénua mas muito entusiástica as soluções materiais de uma sociedade nova, justa e horizontal, onde os homens viviam “do lado da natureza”. Melhor do que estas minhas curtas palavras para explicar o espírito do TBARN são os versos de Mutimati Barnabé João, heterónimo ocasional do António Quadros: (...) Eu o Povo/Vou aprender a lutar do lado da Natureza/Vou ser camarada de armas dos quatro elementos/[a terra, o ar, a água e o fogo]." Então, ali, no campus universitário da Universidade Eduardo Mondlane, entre o Centro de Estudos Africanos (onde estava a sede do TBARN) e a actual Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS, ex- Faculdade de Letras) resta apena um silo triste e solitário, órfão por inteiro das construções que nos anos 70 foram edificadas para se conservarem os cereais, se fazerem tijolos, etc; ali vinha gente do país e do mundo, ali estava uma prevista e fantástica forja do que então se chamava homem novo. A maior parte parte de nós não deve saber o que faz ali aquele abandonado e choroso edifício, como me apercebi hoje ao interrogar alguns estudantes. E talvez a maior parte de nós não saiba para que servem as efémerides históricas. Porque aquele silo roubado à história, ali, no campus, é a história coagulada de uma parte importante da nossa universidade e do nosso país (espantosamente, está a curta distância do Departamento de História) e talvez tenha sido, de forma criadora e poética, a antecâmara febril do desvelo governamental hoje votado aos distritos. Com a vossa permissão, aqui tendes um curto vídeo que esta manhã fiz, quando saía da Faculdade de Letras e Ciências Sociais, a caminho do Centro de Estudos Africanos (no fim do vídeo, do lado direito, vereis uma porção da parte frontal da FLCS):